Uberlândia-MG, 30 de novembro de 2009.
Carta ao Presidente da FIFA
Ilustre senhor Joseph Blatter:
Tomo a liberdade de, nessas breves linhas, chamar a sua atenção para algo de muito grave que aconteceu no futebol brasileiro na noite do dia 11 de novembro de 2009. Naquela noite os times do Palmeiras e do Sport Clube do Recife se enfrentavam pela 35ª rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol. Aos 40 minutos do segundo tempo, em bola alçada na área do time do Sport, o árbitro da partida apita marcando impedimento. Instantes depois, no entanto, a jogada prossegue e o jogador que recebeu a bola conclui a jogada e faz o gol, com os jogadores adversários já parados por terem ouvido o som do apito. O árbitro da partida, para surpresa de todo mundo, começa a se dirigir para o centro do campo validando o gol.
A verdade, senhor Presidente, é que ao assistir ao jogo pela televisão, ouvi claramente o apito do árbitro parando a jogada, apesar de muitos profissionais que cobriram o jogo terem afirmado que nada ouviram. Mas basta uma rápida análise no áudio da partida para que a dúvida se desfaça.
Como o senhor pode ver, estamos diante de um caso muito grave porque todos sabemos que dentro de campo o apito do árbitro é soberano. Sem o apito uma partida de futebol não começa nem termina, e é o apito do árbitro que diz se o jogo está em andamento ou não, se determinada jogada tem validade ou não. Portanto, senhor Presidente, estamos falando de um gol que oficialmente não existiu porque a jogada foi concluída depois de o árbitro ter apitado invalidando-a. E o que é mais grave, o time do Sport ficou matematicamente rebaixado para a segunda divisão com esse gol. E com esse gol o time do Palmeiras pode sagrar-se campeão brasileiro.
Senhor Presidente, como o senhor pode avaliar, não se trata aqui de apenas mais um crasso erro de arbitragem que vai ficar registrado na história do futebol, como o gol de mão do Maradona ou o gol que recentemente classificou a França para a próxima Copa do Mundo, mas de um precedente gravíssimo que pode jogar no lixo toda a credibilidade do futebol enquanto esporte profissional. Até nas ‘peladas’, senhor Presidente, há regras das quais não podemos abrir mão sob pena de a brincadeira perder a graça. Agora, sem graça mesmo e até sem sentido vai ficar o futebol se numa final de copa do mundo o árbitro validar um gol depois de o mundo todo ter ouvido o som do seu apito paralisando a jogada, o senhor não acha? É o que pode acontecer, senhor Presidente, se nada for feito agora.
Senhor Presidente, não sou torcedor do Sport nem torço contra o Palmeiras. Sou apenas um amante do futebol que torce para que algo seja feito em defesa da ética e da dignidade nesse esporte que é um dos mais praticados no mundo. E o primeiro passo nesse sentido é tomar uma atitude exemplar em relação ao episódio aqui narrado, o qual, o senhor há de concordar, é de fato gravíssimo.
Márcio Paiva (Trivelinha)
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