domingo, 7 de agosto de 2011

Escola não educa, escola ensina.

Um amigo encaminhou-me um desses e-mails-desabafo de um professor de Porto Alegre, que narra um caso ocorrido em sala de aula. Narra o professor que uma aluna do ensino médio, que quase não aparecia nas aulas, um dia resolveu dar as caras e aprontar poucas e boas. Ele então resolve repreender a aluna em nome do bom andamento da aula. A aluna, dizendo-se ofendida e humilhada na frente dos colegas, vai se queixar à mãe. Esta imediatamente liga para a escola e reclama da postura do professor. Não satisfeita, aciona a Polícia Civil que obriga o professor a comparecer à delegacia e prestar esclarecimentos. A que ponto chegamos? Interroga o professor ao final do seu desabafo.
Esse poderia ser apenas mais um de tantos e-mails que vemos circular na internet, mas deixou de ser a partir do momento que me foi enviado por outro profissional do ensino, ex-colega meu de Universidade, por quem tenho o maior apreço e que certamente já deve ter passado por poucas e boas.
Casos como o narrado no e-mail acontecem diariamente nas salas de aula e, a meu ver, por um grande equívoco, cujos culpados maiores não são os infratores (os alunos), mas o governo e as famílias. Sempre fui contra esse negócio de dizer que escola educa. Escola não educa, ensina. Professor não é educador, é quem ensina para outros algo que aprendeu. E para ensinar é preciso que haja alguém disposto a aprender, o que não é o caso da aluna turista mencionada no desabafo do professor.
A raiz do problema está no fato de pais terem engolido, por conveniência, o papo furado de que escola educa, e por isso estão cada vez mais lavando as mãos no quesito educação dos filhos. “A escola não educa? Então ela que se vire com meus filhos porque eu não tenho tempo.” Não é assim mesmo que os pais estão raciocinando?
Mas não são apenas os pais que engoliram o papo furado do governo não. Está assim de professor por aí que adora bater no peito e encher-se de orgulho chamando a si mesmo de educador. Claro, a palavra é bonita e representa algo tão nobre. Mas quando é que a ficha vai cair? Sou formado em Letras e bastou um dia em sala de aula como professor para que a minha ficha caísse. Quando vi, com esses olhos que a terra há de comer, jovens (mulheres) de 16 e 17 anos subirem na carteira e sapatearem feito criancinhas do jardim de infância, ah, meus amigos, a ficha caiu rapidinho. O que fiz? Tratei de sair dali rapidinho e fui me aventurar em outra coisa.
Educar e ensinar não são sinônimos. Ensinar é transmitir conhecimentos e competências. Educar é isso e muito mais. Uma rápida consulta aos dicionários deixa isso claro. Vemos claramente que ensinar está dentro do processo de educar, mas é só um item entre muitos outros. Então não dá para confundir e muito menos substituir uma coisa por outra. Como não dá para a Escola substituir a Família. A adolescente citada no e-mail do professor deixou isso claro: “Quem é você para chamar a minha atenção na frente dos outros?” Resumindo a ópera: “quem é você para me educar?”
Infelizmente, como já disse, a confusão começa no governo, é aceita por professores e adorada pelos pais que, como diz uma frase de uma música do cantor e compositor brega, Falcão, “estão como a vaca: cagando e andando” para a educação dos seus filhos.
Então, para que a coisa comece a mudar, vamos colocar na fachada do prédio do Ministério da Educação a inscrição Ministério do Ensino. Com isso, a escola poderá cobrar dos pais filhos educados e que estejam na sala de aula dispostos a aprender.
Hoje o que temos é um monte de pirralhos metidos a bestas, fazendo e desfazendo com total apoio ou, no mínimo, conivência dos pais. E ai do professor que ouse dizer um ai para seus queridinhos. Porque educação, isso aprendi com meus avós e pais, se faz dentro de casa, em família, com lições, conselhos, afeto e vara de marmelo, quando preciso. Mas como agora já querem proibir até palmadas, não é verdade, pessoal da Psicologia? Aí chegou minha vez de perguntar: onde vamos parar? Respondam vocês, psicólogos oportunistas, bando de FDPs que vivem na TV ditando regras fajutas de como nós pais devemos educar nossos filhos. Muitas das tragédias que temos visto por aí têm origem nesse discurso hipócrita e absurdo de vocês. Bom, mas isso é assunto para outro post.