quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O corrupto de cá é tão assassino quanto o homem-bomba de lá

Todos os dias assistimos horrorizados aos ataques terroristas de homens-bomba pelas lentes das emissoras de TV e vemos sair da boca de apresentadores e comentaristas palavras de repúdio e condenação ao “radicalismo absurdo” que tantas vidas ceifam nos quatro cantos do mundo. Os povos do ocidente, fazendo coro aos norte-americanos, não se cansam de manifestar seu repúdio contra os atos terroristas praticados pelos “monstros fundamentalistas do oriente”. Mas que direito, ou melhor, que moral temos para julgar os assassinos de lá se fechamos os olhos para os horrores cometidos pelos assassinos de cá? Que punição demos, por exemplo, aos protagonistas do mensalão? De que forma punimos aqueles que diariamente agem na surdina e desviam verbas públicas? Qual é a diferença entre o fundamentalista homem-bomba que tira a vida de tanta gente em ataques terroristas e os comparsas do Arruda que recentemente apareceram na TV orando e agradecendo a “Deus” porque o seu esquema de extorsão e propina seguia de vento em popa, enquanto, por falta da verba que entra sorrateiramente em seus bolsos, muitas vidas se perdem por falta de comida, medicamento, assistência à saúde e outros tantos recursos? Francamente, talvez a única diferença esteja na crença de um e de outro. O homem-bomba age por acreditar piamente que seu ato garantirá para ele, após a morte, um lugar no paraíso. Já o corrupto age movido pela crença total e absoluta na impunidade.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Jesus ou Barrabás?



No ano 19 de Tibério Cesar, imperador romano, Pôncio Pilatos, governador da cidade de Jerusalém, submete ao julgamento da multidão dois acusados e pergunta: qual deles devo libertar e qual devo pregar na cruz? A multidão lavra sua sentença: “libertem Barrabás, crucifiquem Jesus de Nazaré!”. Hoje, passados tantos séculos, a história se repete a cada caso de corrupção que ganha destaque nos noticiários. Escândalos à parte, os corruptos e corruptores, tal qual sucedeu a Barrabás, se safam protegidos pela permissividade das leis, em cujo texto sempre encontram brechas e argumentos para escaparem ilesos. Leis que, não faz mal lembrar, são feitas quase sempre por eles mesmos ou por alguém patrocinado por eles. Enquanto isso, o cidadão comum, tal qual se cumpriu com Cristo, segue na sua via crúcis rumo ao calvário, crucificado todos os dias pelo peso dos tributos e das obrigações civis, de que não consegue escapar porque a lei da sobrevivência é sempre mais rude e implacável que as leis constitucionais. E, assim, igual ao que se fez na distante Jerusalém dos primeiros anos da Era Cristã, também hoje Barrabás escapa e Jesus é condenado. E os doutores da lei, que se intitulam porta-vozes da justiça, parecem repetir o gesto de Pilatos ao lavar as mãos e esperar para ver se do céu virá, de fato, a justiça que eles próprios não se mostram capazes ou interessados em fazer reinar na Terra.


Márcio Paiva (Trivelinha)
trivelinha@netsite.com.br

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dona Selma e a saga dos 'retados'

Fim de tarde domingueira, chuvinha boa de ouvir e de molhar a terra. Coisa que é até rara na terra de Dona Selma, lá nos confins da Paraíba. Dona Selma, que o próprio nome só lê por letra de outro porque ela mesma não sabe escrever (”escrevinhá”, no dizer dela), cruzou o país e veio dar aqui, na terra do uai. Já ia dizer que com a cara e a coragem, mas no caso dela a coragem vem primeiro. Para tocar a vida com dignidade, faz faxina na casa de outras Selmas. Por certo casa própria, coisa que Dona Selma mesmo de certo só terá um dia por força de um milagre: um bilhete de loteria premiado ou herança de algum semelhante que ‘panhe’ simpatia pelo seu jeito de ser e falar. ‘Tirante’ isso, é o mesmo e velho piparote da fé que toda manhã vem bater-lhe no ombro e anunciar que mais um dia de suor começa. Mais um dia de luta em terra de estranhos. Mas se ‘avexe não’ que esmorecer não é coisa de gente ‘retada’ feito Dona Selma. Uma sacudida no esqueleto e no espírito e lá está ela de pé para mais uma jornada que há de ser tocada com garra igual à dos ‘retados’ que botaram Brasília no mundo antes mesmo que o mundo piscasse os “ói”. Duvide não que é igual que nem certa feita disse o “Mestre Lula”, outro cabra ‘retado’: “Paraíba masculina, muié macho sim sinhô”. E Dona Selma é muito macho, mas não macho do sexo masculino, macho de bravura. A mesma bravura que está no sangue de toda essa gente que cruza o país trazendo na mala um ‘cadinho’ de trapo e uma única certeza: coragem não há de ‘fartá’.
Ave, gente de lá, de longe. A gente de cá lhe tem respeito!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Ensaio com Scheila Carvalho agora também no youtube


O Trivelinha teve a honra de fazer o texto de apresentação do fotógrafo Leo Faria para
o ensaio ‘pin-up’ com a Scheila Carvalho. O ensaio foi publicado na revista Cult.
Clique aqui e confira o texto na íntegra. Venha por aqui e assista ao ensaio no youtube.