Como disse, não quero fazer deste blog uma fonte de baixo
astral e depressão. Por isso, vou tentando aqui e ali colocar um pouco de humor
na tragédia que é carregar duas doenças crônicas. Dessa vez narro um apuro que
passei na agência central do Banco do Brasil aqui em Uberlândia. Certa feita,
estava no 3º ou 4º andar do prédio da agência. Pra variar, numa fila
interminável. Quem frequenta o bb sabe como é. E eis que depois de uns sei lá
quantos minutos de espera, o intestino começou a piar fino. Dali a pouco
começou a engrossar a voz e, por fim, berrou de vez. E quem faz uso contínuo de
Pantoprazol, omeprazol, lanzoprazol e similares sabe que quando o intestino dá
de querer expulsar o cocô não tem jeito que dê jeito. Vem aquele gás empurrando
tudo pra baixo. E aí é assim: se tem banheiro perto, sorte sua. Se não, arreie
as calças ou vai borrá-la toda. Como eu sou expert nessas descargas
intestinais, já suando, chamei o guarda: "Seu guarda, por favor, tem um
banheiro que eu possa usar?". O guarda, num "nem te ligo" de dar
inveja à Dama de Ferro, responde: "Aqui tem banheiro, mas é só pra
funcionários, então segura a onda aí!". Eu sabia que o final seria
trágico, mas ainda fiz um último esforço na tentativa de segurar, só que aí o
intestino deu xilique de vez e, pra botar mais pressão, começou uma contagem
regressiva. Sabe como é, né, aquele último gás que sai trazendo o aviso:
"o próximo vem acompanhado de muita merda". Eu então voltei a
interpelar o guarda: "pergunta pro pessoal aí se não liberam
o banheiro, a coisa tá feia aqui, amigo" e fiz aquela cara do gatinho
do Shrek. Nada. O guarda fechou a cara e soltou: "se quiser se
arriscar, no 1º andar tem um banheiro. Pede lá". Ótimo, pensei, saio
correndo, procuro o guarda lá embaixo, troco um lero com ele e beleza, terei um
vaso só pra mim. E a contagem regressiva a todo vapor. Como não deu pra pegar
elevador (pra dizer a verdade, nem sei se lá tem. Se não tem wc, elevador muito
menos. E vai que está em manutenção ou viajando pelos outros andares), saí
correndo pela escada. E dê-lhe dor de barriga, suor, contorcionismo pra
segurar a onda. Finalmente chego ao 1º andar. Cadê o guarda, pelo amor
de Deus, cadê o guarda? Opa, lá está ele. Por ironia, parecia que estava
voltando do banheiro. De guarda é que não estava. Corro em direção ao guarda
como o cego corre em direção a quem vai restituir sua visão, já pálido de tanto
segurar. "Seu guarda, pelo amor de Deus, me deixa usar o banheiro. Tô no
limite". E parti pra ignorância: "Se você não liberar, desço as
calças e cago aqui mesmo!". Eu estava no meio da agência. Seria um
espetáculo com público garantido (com direito a MG TV, Jornal Nacional etc.).
Eu estava pálido e suando mais que tampa de marmita. Então pensei: de pena, ele
vai pegar no meu braço e dizer: "me acompanhe até o banheiro". Ledo
engano. O cara, numa frieza de assustar, disse, apontando o dedo: "tá
vendo aquele cara lá? É gerente. Se ele autorizar, você pode usar o
banheiro". Não acreditei. Eu cagando nas calças e o cara me manda pedir autorização
ao gerente? Olho e vejo dois caras sentados em sua mesa e atendendo
clientes. Eu pensei "que legal, enquanto o cara abre uma poupança, eu
lambuzo a minha". Então entrei no meio do negócio e
disse: "por favor, estou desesperado, vou cagar nas calças e o guarda me disse
que você é que libera o banheiro". Bom, o leitor e amigo deve estar
pensando: "o cara entrou em pânico, deu um pulo da mesa e foi correndo
mostrar o banheiro". Se foi isso que o amigo pensou, eu digo mais uma vez:
"ledo engano". O cara esticou o braço, apontou para o outro
gerente e disse: "pede praquele cara lá, ó!". Como a tragédia depois
de um certo ponto vira comédia, comecei a rir de mim mesmo naquela situação. E
aí fica a pergunta: será que em cumprimento às regras de uma empresa, nós
devemos deixar outro ser humano se lascar na nossa frente? Cadê a
consciência dos caras? Tem cara que em nome de manter o emprego deixa a
própria mãe cagar em público. Alguém duvida? Eu tenho pena de gente
assim. E os bancos no Brasil são tudo filho-da-puta. Não cumprem a
lei que determina o prazo máximo
de espera do cliente, e a justiça além de cega, cruza os braços. Não faz nada.
Ora, se o cara tem que ficar duas horas numa fila, pelo menos oferece um
banheiro, cacete! Eu sei é que eu olhei pro guarda, que estava
distante e ele entendendo que o cara havia autorizado, finalmente me
chamou e apontou a direção do banheiro. Eu corri mais que o Usain Bolt nos 100
metros rasos. Dei aquela sentada no vaso e descarreguei geral. E bem fedido
que era pra me vingar da disgramera daquele banco. Ô banco fuleiro, esse do
Brasil.