terça-feira, 12 de abril de 2011

12 crianças, uma constatação.

      Os números não deixam dúvida. Estamos investindo em violência muito mais que investimos na paz. As cifras são assustadoras. Pesquisas no Google informam que durante a ação no Iraque os EUA chegaram a gastar mais de 300 milhões de dólares por dia com suas forças militares e estima-se que os gastos até 2010 tenham ultrapassado a casa de 1 trilhão de dólares. Países onde a mortalidade infantil é vergonhosa, por conta da total falta de infraestrutura, não abrem mão dos “investimentos no fortalecimento de suas forças armadas”, “na vigilância de suas fronteiras”. Será que tem algum país cobiçando o esgoto que corre a céu aberto?
     Na América do Sul os gastos militares somaram 63,3 bilhões de dólares em 2010, um crescimento de 5,8% em relação a 2009. No Brasil, os gastos subiram 9,3%*. Em nome de quê, eu pergunto. Será que o Brasil para se consolidar como grande potência precisa, antes de mais nada, modernizar suas forças militares? Será que precisamos de uma bomba atômica para ‘cantar de galo’? Não seria mais sensato investir o dinheiro em saúde e educação, por exemplo?
      Ainda ontem o Globo Repórter**exibiu cenas de pessoas abandonadas nos corredores dos hospitais públicos. Ao lado dessa visão estarrecedora, vimos a situação dramática dos profissionais de saúde que se veem diante do desesperador dilema de terem que decidir quem deve viver ou morrer porque não há leitos nem equipamentos nos hospitais para socorrer todo mundo. 1 míssil tomahawk custa em torno de um milhão e meio de dólares. Pois enquanto os tomahawks passeavam pelos céus da Líbia, aquela garotinha que apareceu agonizando no Globo Repórter perdeu a vida por falta de uma UTI.
      Mas onde quero chegar com isso? A Realengo, onde um rapaz tirou a vida de doze crianças. Porque me preocupa ver o Presidente do Senado falar em consulta para o desarmamento. Será que o problema é o fato de termos ou não arma em casa? Os números que acabo de apresentar mostram que o buraco é mais embaixo.  
      A questão não é o uso da arma, a questão é a sua existência.  Se investíssemos em qualidade de vida (e aí entra tudo que é lembrado na época das eleições: educação, saúde, emprego, infraestrutura etc.) o que gastamos com armas e guerras, haveria necessidade de armas? Se investíssemos na paz tudo que gastamos com armas e guerras, precisaríamos de armas? 
     Há os que defendem o uso das armas como forma de garantir a paz no mundo. Mas esses que defendem o uso da força para a instituição da paz nada mais fazem que garantir o enriquecimento dos fabricantes e comerciantes de armas e de políticos gananciosos mundo afora. E aqui uma questão se coloca: quem tem a mente mais conturbada, mais diabólica, os fabricantes e comerciantes de armas ou o rapaz que tirou a vida das 12 crianças em Realengo? Uma questão e tanto para os psicólogos e psiquiatras que querem encontrar uma justificativa para algo que não se justifica. Absolutamente nada justifica a morte daquelas crianças.
      Esperemos pelo final dessa história, quando por certo veremos o rapaz de Realengo pintado na mídia como fundamentalista, muçulmano ou coisa equivalente, para alegria de psicólogos e psiquiatras que querem atrair para si a autoridade de quem é capaz de explicar todas as nuances da mente humana. O fato é que tá assim de gente com motivos de sobra para sair por aí atirando, explodindo e incendiando tudo. E ao apontar esses motivos voltamos a falar de tudo que só é discutido em tempos de eleições: desemprego, filho vendo pai morrer nas filas dos hospitais públicos por falta de atendimento, mães chorando a morte de seus filhos nas filas dos hospitais públicos por total descaso das autoridades públicas (e aí entra todo mundo, inclusive o ilustre Presidente do Senado). Não é de revoltar? E quando alguém sai por aí dando tiros, queremos transformá-lo num muçulmano ou alguém ligado a redes terroristas, numa tentativa de explicar o inexplicável. E para fechar com chave de ouro, vem o ilustre Presidente do Senado falar em desarmamento como se isso fosse a solução. Não é.
      O fato é que de nada adianta desarmar sob o pretexto de poupar algumas centenas de vidas, enquanto outros milhões de vidas se perdem nas guerras, nos porões da corrupção e na indiferença daqueles cujo burro está na sombra faz tempo. E que não venham os intelectuais de meia-tigela, cínicos e hipócritas, que estão sempre de plantão nessas ocasiões, dizer que “o desarmamento não resolve, mas já é um avanço”.
      No fim, o que resta é a dor irreparável dos pais e mães que perderam seus filhos porque vivemos num mundo que optou pela violência e não pela paz, pela morte e não pela vida, pela corrupção e não pela integridade. Simples assim.
*Fonte:http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/04/11/gastos-militares-batem-recorde-em-2010-america-do-sul-destaque-924202382.asp.
*Programa exibido em 01/04/2011.