segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Será que agora vai?

Vira e mexe a Globo usa suas novelas para abordar a homossexualidade, mas nunca tem coragem de ir até o fim. A emissora bem que insinua, cria expectativa, mas quando se trata de mostrar um beijo ou uma cena mais ‘caliente’ entre pessoas do mesmo sexo, fica sempre no quase, o que acaba por fazer efeito contrário. Isto é, se a emissora quer ajudar a sociedade a quebrar o tabu e ampliar o debate sobre o homossexualismo, o que ela faz ao dar para trás na hora H é reforçar o preconceito e expor os homossexuais a grande constrangimento.

Agora com a 10ª edição do Big Brother Brasil a emissora parece ter encontrado a solução para o impasse ao selecionar um número maior de participantes com tendências homossexuais declaradas. Será que na casa da privacidade zero vão rolar as cenas que a Globo ainda não teve coragem de mostrar em suas novelas, no campo da ficção? E se isso acontecer, qual será a reação do público? Será que estamos preparados para aceitar com naturalidade os relacionamentos homossexuais, escancarados na TV? São perguntas que só poderão ser respondidas depois que algo acontecer (se acontecer). Quanto à postura da Globo, seja qual for a reação do público, é de se esperar um comportamento mais ou menos do tipo: “A Globo não responde pelas atitudes de quem participa do Big Brother Brasil. Portanto, a emissora não tem nada a ver com o que rola dentro da casa”. Ou seja, dificilmente a emissora vai descer do muro. Isso porque é grande a pressão dos dois lados do muro. De um lado os homossexuais cobram da TV e das outras mídias mais espaços onde possam ver discutida com o devido respeito e maturidade a sua opção sexual e do outro lado os anunciantes, que sustentam as diferentes mídias, condenam cenas que julgam como “atentado à moral e aos bons costumes”. Para onde correr então? É esperar para ver.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Liberdade de expressão

Assim disse o Casoy

Nas últimas eleições para Presidente da República, de 2006, em debate ao vivo na TV, o jornalista e apresentador Boris Casoy afirmou categoricamente que o Lula seria reeleito porque os nordestinos eram alienados, que não tinham acesso aos meios de comunicação e que, portanto, sequer sabiam o que estava acontecendo no resto do país. Eu, que acompanhava o debate para ver o desempenho dos candidatos nas urnas, quase caí para trás quando ouvi a declaração do apresentador, que é reconhecidamente um dos mais gabaritados da TV brasileira.

Em sua infeliz declaração, o jornalista fez subentender que se dependesse apenas dos eleitores das regiões sul e sudeste, o Lula dificilmente seria reeleito porque esses eleitores são mais esclarecidos, têm mais acesso aos meios de comunicação etc., diferentemente, portanto, dos eleitores nordestinos, no dizer dele verdadeiros boçais. Ironicamente, porém, terminadas as eleições, quem aparece eleito deputado em São Paulo? Ninguém menos que Paulo Maluf, aquele mesmo que meses antes das eleições passara vários dias na cadeia por conta do antigo processo por apropriação indébita de verbas públicas que o governo de São Paulo move contra ele. O mesmo Maluf do velho e conhecido bordão “roubo, mas faço!”. Cabe então perguntar ao Casoy de onde ele tirou a teoria de que os eleitores do nordeste são alienados e os do sul e sudeste esclarecidos. Será que os eleitores do nordeste elegeriam o Maluf? Para mim está claro de onde ele tirou a teoria: da sua soberba, da sua visão preconceituosa. Soberba e preconceito que ficaram escancarados de vez em outra declaração infeliz do apresentador, dessa vez em episódio mais recente. Em 31 de dezembro de 2009, após uma vinheta do Jornal da Band, chamando o intervalo comercial, sem saber que o áudio ainda estava sendo transmitido, Casoy comentou as imagens exibidas anteriormente, que mostravam uma dupla de garis desejando felicidades aos telespectadores da emissora. Assim disse o Casoy: "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o povo mais baixo da escala do trabalho...".

Mas não é só o Casoy que desfila diante das câmeras as suas infelizes frases discriminatórias. Quem não se lembra daquele episódio em que os índios receberam a golpes de facão um funcionário da Eletrobrás que foi lá no Rio Xingu, no Pará, para dar uma palestra sobre usina hidrelétrica? Pois bem, o apresentador do Jornal da Globo, cujo nome me foge agora, ao comentar o acontecido, disse em alto e bom tom: “esses índios são mesmo uns selvagens!”. Alto lá, senhor apresentador! Voltemos um pouquinho no tempo e o senhor verá que os índios eram os legítimos donos da Terra Brasilis. Não só de um pedacinho de terra lá do Pará não, do país inteiro. Nós, os “civilizados”, como o senhor fez supor, roubamos o país deles e os dizimamos, violentamos suas mulheres, corrompemos seus filhos. Bom, mas paremos por aqui. Para saber mais a respeito do quanto sacaneamos os índios é só pesquisar na internet ou fazer uma breve incursão nos livros de História. Então, quem são os selvagens mesmo?

Que o cara tenha suas próprias opiniões, tudo bem, é um direito de todos, mas é dever de cada jornalista (e os jornalistas sérios e profissionais hão de concordar comigo), pensar bem antes de emitir opiniões preconceituosas e discriminatórias. Afinal, num estado democrático de direito, o jornalista é uma das figuras mais importantes. Sou a favor da liberdade de expressão sim, mas para os jornalistas sérios e profissionais, que estudam a história, que pesam bem os fatos antes de emitir sua própria opinião diante das câmeras de TV ou na mídia impressa. Mas não podemos de forma alguma permitir que os jornalistas de meia-tigela ocupem espaço na TV para expor os seus preconceitos, os seus bairrismos, as suas rixas político-partidárias. Liberdade sim, mas com responsabilidade, como sempre nos ensinaram os nossos avós.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sua bênção, Vó Cida!



É crença entre os seguidores das religiões ditas cristãs que Cristo voltará um dia à Terra, com toda sua glória e força, para o profetizado julgamento final. Mas como reagiriam todos os que acreditam na volta triunfal do Filho de Deus, cheia de alarde e toques de trombetas, se alguém de repente dissesse que ele já voltou não só uma, mas inúmeras vezes, sem que muitos sequer tenham se dado conta disso? No mínimo causaria espanto. Pois ouso afirmar que Cristo já voltou na pele de mulheres e homens santos que preencheram algumas páginas da história da humanidade com exemplos de fraternidade e amor ao próximo e que, tal como sucedeu ao nazareno, foram vítimas da incompreensão de muitos. Só para citar alguns, relembro São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, a heroína Joana D’arc. E mais recentemente, na vizinha Uberaba, dois abnegados apóstolos, Chico Xavier e Dona Aparecida, a “Vó Cida” do Hospital do Pênfigo. Do primeiro nem é preciso falar, todos conhecem os extraordinários testemunhos de amor a Cristo dados por ele. Um homem que foi fiel aos ensinamentos do Cordeiro de Deus a ponto de abdicar da própria vida para servir de amparo a tantas almas que o procuravam carentes de tudo, material e espiritualmente falando. Quero então dedicar algumas palavras à Vó Cida, mulher de muita fibra e coragem, responsável pelo Hospital do Pênfigo, instituição que abriga portadores de uma doença terrível, o Pênfigo Foliáceo, popularmente conhecida como doença do fogo selvagem. Em 1945 dona Aparecida era enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Uberaba quando os diretores do hospital, por questões políticas, como sempre acontece, decidiram que não mais cuidariam dos pacientes portadores de Fogo Selvagem que se encontravam internados no hospital. Compadecida da situação dos pacientes, que não tinham para onde ir, Vó Cida levou 12 deles para sua pequena casa e logo se viu diante de uma escolha difícil. Um de seus filhos pediu-lhe que tomasse uma decisão: ficar com a família ou com os doentes. Como uma autêntica discípula do Cristo, Vó Cida não pensou duas vezes, ficou com os doentes. "Hoje, fico com os doentes, porque eles só têm Deus e eu por eles, vocês estão crescidos e vão se virar", disse ela ao filho. A partir desse dia Vó Cida, como acontecera ao próprio Cristo, experimentou todo tipo de humilhação e dificuldade. Sozinha, incompreendida pela família, sem apoio das autoridades públicas e rechaçada pelo preconceito da comunidade que acreditava ser o Fogo Selvagem uma espécie de lepra, uma doença contagiosa, Vó Cida foi para São Paulo onde chegou a ser presa por pedir esmolas para sustentar os doentes. Dois vereadores de Uberaba, em visita à capital paulista, tão logo a viram nas ruas esmolando, pediram sua prisão sob a alegação de que com aquele gesto ela estava denegrindo a imagem da sua cidade. Foram 8 dias no xadrez. O calvário de Dona Aparecida só não foi pior porque almas generosas dela se acercaram, entre elas o médium Chico Xavier e o jornalista Saulo Gomes. Com a ajuda dos dois e o apoio sobretudo daqueles que eram admiradores de Chico Xavier, Vó Cida edificou em 1957 a instituição que hoje se chama Lar da Caridade Hospital do Pênfigo, onde por mais de 50 anos essa grande heroína, lutando contra todas as adversidades, dedicou-se inteiramente à prática da caridade, prestando socorro a todos os desamparados que bateram à sua porta. E sempre que a vejo na TV, em um vídeo em que ela é entrevistada pelo jornalista Saulo Gomes, embevecido por sua candura e grandeza de alma, me sinto diante do próprio Cristo porque aquela mulher negra, corajosa e íntegra foi a mais fiel personificação dos ensinamentos do carpinteiro de Nazaré. Salve, salve, Vó Cida, seus exemplos ficarão marcados em nosso coração como rastros indeléveis a serem seguidos!

Depoimentos da Dona Aparecida em entrevista concedida à Folha Espírita de São Paulo, em setembro de 1999:

“Eu trabalhava no hospital havia dois anos e alguns meses. Venceu o mandato daquela diretoria, e entrou outra. A eleição foi dia 4, e dia 6 eles tomaram posse. Os novos diretores parece que tinham alguma rixa com nosso médico, que era irmão do Pedro Aleixo e partidário da UDN. A turma que ganhou era do PTB. Falaram para mim: "Olha, hoje não tem almoço para os doentes, pode mandar todos pra casa". "Como?" , eu disse, "eles não têm dinheiro, estão ruins." "Ordem dada, ordem executada", replicaram. Ou seja, não havia apelação, os doentes estavam na rua."

“Havia muito preconceito para com os doentes. Eu saía para pedir esmolas com três deles. Muita gente nos via e descia da calçada. Se nós entrávamos nos ônibus, o pessoal descia. Fomos pedir em uma casa, e os meninos tocaram no portão. Antes que subíssemos, a dona da casa mandou passar álcool no portão para desinfetar. A doença do pênfigo é triste, é horrorosa, o doente na primeira fase é um pedaço de carne podre. E o povo tinha medo, porque ninguém conhecia, mas nós vencemos. Para fazer esta casa aqui foi uma luta, tantos foram os abaixo-assinados para que não fosse feita.”

“Aqui não tem um grão de areia dado pela Prefeitura, nem pelo Estado ou a União. Foi o povo quem me ajudou. O pessoal espírita daqui fazia a campanha "Auta de Souza" e traziam as coisas para mim. Mas não dava para manter a casa, porque no final de um mês eu tinha trinta e cinco doentes. Fui para São Paulo e ficava no Viaduto do Chá, em frente da Light. Punha um lençol, as meninas segurando, e eu com um sino dizia: "Me dêem uma esmola pelo amor de Deus, para os doentes do Fogo Selvagem de Uberaba". E aí o povo ia jogando níqueis. Na época, foram dois vereadores daqui passear em São Paulo: um advogado e um médico. Achando que eu estava desmoralizando Uberaba, fizeram Ofícios para o Assis Chateaubriand e para a Delegacia. Fiquei oito dias no xadrez, até que uma advogada, Doutora Izolda, me tirou. Quem mandou ela me tirar, não sei até hoje, pois ela já morreu."

Para saber mais sobre a história de Dona Aparecida, consulte o livro "Uma Vida de Amor e Caridade", de Izabel Bueno, Editora Espírita Cristã Fonte Viva, Belo Horizonte-MG.”