terça-feira, 26 de outubro de 2010

Analfabeto é pior que ladrão?

No país da corrupção, quem rouba pode, analfabeto pode não.

Quando um político aparece na tv escondendo dinheiro na cueca, nós rimos, achamos hilário. Acontece que, enquanto o “filho da mãe” esconde dinheiro na cueca, milhares de pessoas padecem nos corredores dos hospitais públicos, quando não morrem na fila de espera por atendimento. Abro este artigo falando de riso para introduzir um assunto que tem mexido com a opinião pública: a perseguição dos políticos e parte da imprensa ao palhaço Tiririca, eleito Deputado Federal. Alegam que ele não pode assumir o cargo por ser Analfabeto. Em meio a tantos burburinhos, tenho me feito o seguinte questionamento: se ladrão ou corrupto pode ser vereador, prefeito, deputado, ministro, vereador, juiz do Supremo Tribunal Federal e até Presidente da República, por que um analfabeto não pode? A verdade é que, enquanto perseguem o artista Tiririca, outros fatos muito mais graves deixam de ser discutidos pela sociedade. Um exemplo? A vergonhosa postura dos senhores juízes do Supremo Tribunal Federal no episódio da Lei da Ficha Limpa. Ficaram lá reunidos discutindo se a Lei valeria já nestas eleições ou só a partir da próxima. Não é ridículo? Ora, se o cara tem a ficha suja deveria estar automaticamente impedido de representar a sociedade, nesta e nas eleições seguintes. Se ele não poderá na próxima, por que poderia agora? E os senhores juizes estão lá reunidos, ganhando seus altíssimos salários, que saem do bolso daqueles que estão morrendo nos corredores dos hospitais públicos (ironia? crueldade?), discutindo (assim dizem eles) algo tão óbvio. A quem eles pensam que estão enganando? 1.300.000 (1 milhão e trezentos mil votos) no Tiririca provam que ninguém se sente enganado. São votos de gente que diz, com seu comportamento diante das urnas, estar “cagando e andando” para os senhores políticos e para os senhores juízes. Uma pena porque, enquanto estamos cagando e andando, “cidadãos” continuam morrendo nos corredores dos hospitais públicos, amontoados feito bichos. Não faz muito tempo, estive no hospital de clínicas da UFU e saí de lá completamente destruído como ser humano ao ver e ouvir gente gemendo nos corredores, esperando por uma cirurgia. Não quero fazer aqui nenhuma crítica direta ao hospital da UFU. Acredito que quem trabalha lá faz o melhor que pode com os recursos que tem. Qualquer crítica negativa, portanto, poderia ser injusta. Entretanto, não poderia deixar de dizer que nos minutos em que lá estive, me senti num verdadeiro hospital de guerra, com macas se atropelando nos corredores.

O problema é que, infelizmente, nós brasileiros somos um povo que não tem a menor vocação revolucionária. Somos herdeiros de gente fugida de Portugal, e não temos vocação para a boa briga, a boa luta. Lá na França, recentemente, o governo quis mexer nas leis que beneficiam os estudantes. O que aconteceu? Paris e outras cidades viraram praças de guerra. A sociedade, que é forte e organizada, foi às ruas, e o governo teve que recuar. Aqui no Brasil funciona assim: meia dúzia de gatos pingados vão a Brasília protestar, são presos, apanham da polícia, “defensora da lei e da ordem”, e aparecem na mídia como baderneiros, desocupados e bandidos. Enquanto isso, gente como o Maluf é chamada de Vossa Excelência na Câmara dos Deputados. Gente como o Sarney preside o Senado. Onde está a sociedade brasileira que não vai ao Supremo Tribunal Federal enfiar o pé na bunda dos juízes e expulsá-los de lá, fazendo valer a Lei da Ficha Limpa desde já? Não seria o caso? Sinceramente, depois de ver o Presidente do STF “mijar no barranco” na hora de desempatar a votação a favor da aplicação da Lei, acredito que sim. E não será surpresa se daqui dois, três meses a imprensa noticiar que os juizes fulano, beltrano e sicrano receberam propina para empurrar com a barriga a decisão sobre a validade imediata da Ficha Limpa em benefício de alguns candidatos.

Entre o palhaço que nos faz rir para esquecer um pouco dos problemas e o corrupto que nos faz rir enquanto assassinam milhares de pessoas por falta de comida, de educação, falta de tudo, fico com o primeiro, analfabeto ou não. Além disso, da maneira como está, a política no Brasil é um grande circo, e tem lugar mais apropriado para palhaço? Seja bem-vindo então, palhaço Tiririca! Afinal, como você brilhantemente disse em seu bordão de campanha, pior do que tá, não fica!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Saúde!

Saúde. Quem tem, deve saber que não lhe falta nada para ser feliz.

Realização pessoal, uma família bacana, dinheiro para tocar a vida sem maiores apertos, um carro legal, uma moto irada, sucesso profissional, reconhecimento.
Nós damos tanto valor a essas coisas que não nos sobra tempo para pensar em algo sem o qual nada disso pode ser desfrutado com alegria e paz de espírito: saúde. Quem tem saúde deveria agradecer a todo momento por ter recebido da vida o maior presente que ela pode nos conceder.
Quem tem saúde, tem tudo. O resto é lucro. Quantos milionários não investiriam toda sua fortuna em saúde se saúde fosse um artigo à venda, que pudesse ser comprado? Portanto, se você tem uma saúde legal, mesmo que não tenha uma fortuna para gastar, sinta-se realizado por ter o que é necessário para curtir com toda intensidade aquilo que a sua condição financeira lhe permite desfrutar. E acredite: o que temos é tudo de que precisamos para sermos felizes se temos saúde. Quanto custa um sorriso de um filho para quem é pai ou mãe? Quanto custa um almoço de domingo na casa dos nossos pais? Quanto custa aquele arrepio que sentimos quando, ao olhar no semblante cansado de nossos pais, agradecemos em silêncio: valeu, pai, valeu, mãe por tudo que fizeram por mim? Quanto custa a presença dos amigos que nos acompanham vida afora? Sem saúde, tudo isso que para nós há de mais caro perde parte do colorido, do encanto.

Saúde. Quem tem, tem tudo de que precisa. Quem tem, é mais que um milionário. É um milionário feliz.

Saúde é tudo que desejo nesta mensagem que há muito vinha batendo à porta do meu coração pedindo para que eu a externasse em palavras dirigidas aos meus amigos.

Saúde, gente, saúde!

Trivelinha

sexta-feira, 19 de março de 2010

Brinquedos que matam

Injeção eletrônica, motor flex, travas e vidros elétricos, direção hidráulica, câmbio automático, computador de bordo, piloto automático e muito conforto. Hoje, com toda a parafernália de dispositivos eletrônicos, filhos das chamadas “tecnologias de ponta”, os antigos automóveis viraram verdadeiros “carrões de luxo”, condenando ao sucateamento a geração dos carburados. Com tantos recursos e atrativos, o condutor reage diante dessas máquinas ultramodernas com a mesma euforia com que uma criança reage diante de um brinquedo eletrônico. E por conta desse deslumbramento muita gente deixa de atentar para um detalhe muito importante: a segurança. Está cada vez mais frequente o tal ‘recall’ das grandes montadoras que, espontaneamente ou por imposição de órgãos reguladores, chamam os proprietários de veículos até as concessionárias para reparo do que eles classificam como “defeitos de fabricação que podem colocar em risco a vida do condutor”. Isto é, os brinquedos são bonitos, atiçam a vaidade, mas podem matar, o que não deixa de ser irônico porque com tanta tecnologia envolvida sentir-se seguro dentro de um automóvel deveria ser um requisito básico. Há quem diga que o recall nada mais é que um reflexo da sociedade industrializada, marcada pelo excesso de tecnologia e pelo pouco respeito à vida. Que saudades daquele tempo em que o pior que podia acontecer era o motorista ter que empurrar o carango carburado de vez em quando para dar o famoso “tranco”. O motor engasgava, a partida era difícil, é verdade, mas veículo e condutor chegavam sãos e salvos ao seu destino. O engraçado é que, com tanta montadora fazendo recall, logo veremos motoristas na dúvida se não preferem um Fusca de 4.000 reais que os leve com segurança a um carrão de luxo de 80, 100 mil reais que quebre na estrada pondo em risco a sua vida, numa irônica paródia daquele velho e conhecido ditado que diz: “Prefiro um asno que me leve a um cavalo que me derrube!”.

segunda-feira, 8 de março de 2010

UEC é caso para Promotoria de Justiça

“Vereador fulano vai trazer o São Paulo para jogar aqui”. “Vereador Beltrano foi ao Rio convidar a seleção de vôlei para jogar aqui”. “O Deputado X quer fazer do Parque do Sabiá subsede para a Copa do Mundo”. “Senador Y contratou técnico para o UEC”. “Prefeitura está investindo em melhorias no estádio Parque do Sabiá”. Diante de manchetes como essas, a Promotoria de Justiça de Uberlândia deveria se fazer a seguinte pergunta: a quem interessa um Uberlândia Esporte Clube forte? A resposta é mais que óbvia: a absolutamente ninguém. É isso aí, do jeito que está, está perfeito para todo mundo, menos para o Uberlândia Esporte Clube. Indiferentes à situação deprimente que vive o time no campeonato mineiro, todo mundo faz seu merchandising, seu marketing pessoal. O intervalo dos jogos nas rádios é uma festa. Vereador isso, vereador aquilo, deputado aquilo outro. Enquanto isso, temos que amargar um time que enche a nossa cidade de vergonha. Mas pior que a vergonha é a tristeza que sentem aqueles torcedores que acompanham o time desde os gloriosos dias de Juca Ribeiro lotado. Hoje vamos ao estádio e lá estão alguns gatos pingados fazendo chacota com o “time”. Domingo agora foi triste ouvir o depoimento de um comentarista de rádio ao final do jogo em Teófilo Otoni: “É, a gente viaja mais de mil quilômetros pra acompanhar o time, e é essa vergonha. O UEC não é um time, é um bando de jogadores perdidos em campo”. Devemos culpar os jogadores e o técnico? Não. É impossível querer que um time formado em pleno campeonato dê certo. Nem no futebol amador isso funciona. Devemos culpar o Presidente? Sim, mas no que diz respeito à administração do departamento de futebol. Já disse isso e volto a repetir. Enquanto não se contratar um homem forte, que conhece bem os bastidores do futebol, para brigar com a Federação Mineira e formar um elenco decente a tempo de preparar o time para o campeonato, o UEC não vai a lugar algum a não ser para a segunda divisão. O atual Presidente é um homem bem intencionado e tem feito um belo trabalho no sentido de sanar as dívidas do clube. Isso ninguém deve questionar. Mas acho que erra ao querer comandar também o Departamento de Futebol, uma função que deve ser confiada a alguém que seja do ramo. E enquanto o time fica nesse sobe e cai, cai e sobe, os nossos distintos políticos deitam e rolam. Até quando? Quando algum Promotor de Justiça, que tenha um cadinho de amor pelo Uberlândia Esporte Clube e pela nossa cidade, decidir endurecer o jogo para os oportunistas. Como? É simples. Basta determinar: “a partir de agora estádio Parque do Sabiá e arena multiuso estão fechados, e suas portas só serão reabertas no momento em que políticos, empresários e administração municipal apresentarem na Justiça um projeto para o Uberlândia Esporte Clube”. Enquanto permitirem esses “showzinhos particulares”, como o recém-realizado torneio de basquete, que só servem de espaço para os políticos fazerem propaganda (fora do período eleitoral, é bom que se diga), o nosso UEC não sairá do buraco.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Educação sem fronteiras

Em Uberlândia uma Escola se destaca na prática da educação sem fronteiras. É o Inei, instituição dirigida pela educadora Consuelo de Mello Franco.
Mas o que vem a ser a Educação sem Fronteiras? Seria mais um projeto pedagógico, desses que prometem verdadeiras revoluções no ensino? Não. Na minha visão, trata-se de um projeto de cidadania universal. Um projeto que faz do diálogo entre línguas ponte para o diálogo entre culturas.
Pensemos em um cenário no qual uma criança brasileira se corresponda, por carta ou por qualquer outro dentre os muitos canais de comunicação existentes hoje, com uma criança estrangeira, e entre elas tenha início um diálogo, que daqui a pouco vira amizade e mais tarde acaba em intercâmbio de conhecimentos, de costumes e valores culturais. Dá para imaginar tudo o que de bom pode vingar daí?
A expressão ‘cidadão do mundo’, que até há bem pouco tempo servia para caracterizar aquela pessoa ‘viajada’, com horas e horas de estrada e ponte aérea, agora vem caracterizar o cidadão sem fronteiras, pertencente a uma nova geração que vem para governar os destinos do mundo. Uma geração educada para respeitar o vizinho, seja o da casa ao lado ou o do país ao lado. Uma geração educada para respeitar quem tem ideias contrárias às suas. Uma geração educada para ser solidária. Uma geração preparada para utilizar com sabedoria os recursos naturais do planeta. Uma geração acostumada ao diálogo entre línguas, entre culturas e por isso mesmo cada vez mais liberta dos ‘ismos’ separatistas. Em síntese, o cidadão sem fronteiras não será estrangeiro em terra alguma porque sua pátria será o mundo.
Mais uma vez estaríamos falando de utopia? Anos atrás, talvez tudo isso não passasse de um sonho muito distante, inatingível, mas hoje o mundo não é mais tão grande, tão diverso, e conquistá-lo tornou-se um sonho bem real.
Parabéns à educadora Consuelo de Mello Franco por seu empenho em intensificar na nossa cidade uma prática de ensino de tal magnitude.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mais amador impossível

É duro ligar o rádio para ouvir jogo do Uberlândia Esporte Clube e ter que aturar uns caras amadores ao extremo e que só sabem “meter o pau” no time. Domingo agora foi até engraçado. O locutor da Rádio Globo Cultura descia a lenha no time, o time foi lá e empatou. Ele descia a lenha no time, o time foi lá e virou o jogo. Ele continuou descendo a lenha e assim foi até o final do jogo, apesar da vitória por 4 a 1. De “mulambo” pra cima o cara qualificou o técnico do Uberlândia, quando o time perdia por 1 a 0. E foi além, dizendo que no Uberlândia quem manda é a “panelinha de Santa Catarina”. É uma pena ouvir um “profissional” agir de forma tão amadora. O técnico do Uberlândia Esporte Clube ainda não pôde contar com todo o elenco e ainda não teve tempo suficiente para definir o melhor esquema tático para o time por conta da contusão e da falta de ritmo de jogadores importantes e da ausência de outros que não conseguiram liberação na CBF. Portanto, julgá-lo agora seria no mínimo irresponsabilidade. Será que já não basta ter que aturar a voz chata do cara, que narra mal pra burro, troca nomes dos jogadores o tempo todo, atropela o comentarista e os repórteres de campo? Camargo Neto, esse sim, profissional de verdade e que entende de futebol, vem dizendo em sua coluna e na TV que o técnico é bom e só precisa de tempo para acertar melhor o time. Cá pra nós, essa é a opinião que vale, e não a desses ‘barangas’ amadores que se dizem integrantes da imprensa esportiva de Uberlândia.

Outra tragédia é ter que aturar a politicagem nos intervalos dos jogos com entrevistas de vereadores e autoridades públicas. Já disse isso aqui e volto a dizer, tem muita gente fazendo do esporte em Uberlândia palanque para autopromoção e propaganda fora do período eleitoral. Esses políticos oportunistas o tal locutor não critica. Por que será, hein?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Será que agora vai?

Vira e mexe a Globo usa suas novelas para abordar a homossexualidade, mas nunca tem coragem de ir até o fim. A emissora bem que insinua, cria expectativa, mas quando se trata de mostrar um beijo ou uma cena mais ‘caliente’ entre pessoas do mesmo sexo, fica sempre no quase, o que acaba por fazer efeito contrário. Isto é, se a emissora quer ajudar a sociedade a quebrar o tabu e ampliar o debate sobre o homossexualismo, o que ela faz ao dar para trás na hora H é reforçar o preconceito e expor os homossexuais a grande constrangimento.

Agora com a 10ª edição do Big Brother Brasil a emissora parece ter encontrado a solução para o impasse ao selecionar um número maior de participantes com tendências homossexuais declaradas. Será que na casa da privacidade zero vão rolar as cenas que a Globo ainda não teve coragem de mostrar em suas novelas, no campo da ficção? E se isso acontecer, qual será a reação do público? Será que estamos preparados para aceitar com naturalidade os relacionamentos homossexuais, escancarados na TV? São perguntas que só poderão ser respondidas depois que algo acontecer (se acontecer). Quanto à postura da Globo, seja qual for a reação do público, é de se esperar um comportamento mais ou menos do tipo: “A Globo não responde pelas atitudes de quem participa do Big Brother Brasil. Portanto, a emissora não tem nada a ver com o que rola dentro da casa”. Ou seja, dificilmente a emissora vai descer do muro. Isso porque é grande a pressão dos dois lados do muro. De um lado os homossexuais cobram da TV e das outras mídias mais espaços onde possam ver discutida com o devido respeito e maturidade a sua opção sexual e do outro lado os anunciantes, que sustentam as diferentes mídias, condenam cenas que julgam como “atentado à moral e aos bons costumes”. Para onde correr então? É esperar para ver.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Liberdade de expressão

Assim disse o Casoy

Nas últimas eleições para Presidente da República, de 2006, em debate ao vivo na TV, o jornalista e apresentador Boris Casoy afirmou categoricamente que o Lula seria reeleito porque os nordestinos eram alienados, que não tinham acesso aos meios de comunicação e que, portanto, sequer sabiam o que estava acontecendo no resto do país. Eu, que acompanhava o debate para ver o desempenho dos candidatos nas urnas, quase caí para trás quando ouvi a declaração do apresentador, que é reconhecidamente um dos mais gabaritados da TV brasileira.

Em sua infeliz declaração, o jornalista fez subentender que se dependesse apenas dos eleitores das regiões sul e sudeste, o Lula dificilmente seria reeleito porque esses eleitores são mais esclarecidos, têm mais acesso aos meios de comunicação etc., diferentemente, portanto, dos eleitores nordestinos, no dizer dele verdadeiros boçais. Ironicamente, porém, terminadas as eleições, quem aparece eleito deputado em São Paulo? Ninguém menos que Paulo Maluf, aquele mesmo que meses antes das eleições passara vários dias na cadeia por conta do antigo processo por apropriação indébita de verbas públicas que o governo de São Paulo move contra ele. O mesmo Maluf do velho e conhecido bordão “roubo, mas faço!”. Cabe então perguntar ao Casoy de onde ele tirou a teoria de que os eleitores do nordeste são alienados e os do sul e sudeste esclarecidos. Será que os eleitores do nordeste elegeriam o Maluf? Para mim está claro de onde ele tirou a teoria: da sua soberba, da sua visão preconceituosa. Soberba e preconceito que ficaram escancarados de vez em outra declaração infeliz do apresentador, dessa vez em episódio mais recente. Em 31 de dezembro de 2009, após uma vinheta do Jornal da Band, chamando o intervalo comercial, sem saber que o áudio ainda estava sendo transmitido, Casoy comentou as imagens exibidas anteriormente, que mostravam uma dupla de garis desejando felicidades aos telespectadores da emissora. Assim disse o Casoy: "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o povo mais baixo da escala do trabalho...".

Mas não é só o Casoy que desfila diante das câmeras as suas infelizes frases discriminatórias. Quem não se lembra daquele episódio em que os índios receberam a golpes de facão um funcionário da Eletrobrás que foi lá no Rio Xingu, no Pará, para dar uma palestra sobre usina hidrelétrica? Pois bem, o apresentador do Jornal da Globo, cujo nome me foge agora, ao comentar o acontecido, disse em alto e bom tom: “esses índios são mesmo uns selvagens!”. Alto lá, senhor apresentador! Voltemos um pouquinho no tempo e o senhor verá que os índios eram os legítimos donos da Terra Brasilis. Não só de um pedacinho de terra lá do Pará não, do país inteiro. Nós, os “civilizados”, como o senhor fez supor, roubamos o país deles e os dizimamos, violentamos suas mulheres, corrompemos seus filhos. Bom, mas paremos por aqui. Para saber mais a respeito do quanto sacaneamos os índios é só pesquisar na internet ou fazer uma breve incursão nos livros de História. Então, quem são os selvagens mesmo?

Que o cara tenha suas próprias opiniões, tudo bem, é um direito de todos, mas é dever de cada jornalista (e os jornalistas sérios e profissionais hão de concordar comigo), pensar bem antes de emitir opiniões preconceituosas e discriminatórias. Afinal, num estado democrático de direito, o jornalista é uma das figuras mais importantes. Sou a favor da liberdade de expressão sim, mas para os jornalistas sérios e profissionais, que estudam a história, que pesam bem os fatos antes de emitir sua própria opinião diante das câmeras de TV ou na mídia impressa. Mas não podemos de forma alguma permitir que os jornalistas de meia-tigela ocupem espaço na TV para expor os seus preconceitos, os seus bairrismos, as suas rixas político-partidárias. Liberdade sim, mas com responsabilidade, como sempre nos ensinaram os nossos avós.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sua bênção, Vó Cida!



É crença entre os seguidores das religiões ditas cristãs que Cristo voltará um dia à Terra, com toda sua glória e força, para o profetizado julgamento final. Mas como reagiriam todos os que acreditam na volta triunfal do Filho de Deus, cheia de alarde e toques de trombetas, se alguém de repente dissesse que ele já voltou não só uma, mas inúmeras vezes, sem que muitos sequer tenham se dado conta disso? No mínimo causaria espanto. Pois ouso afirmar que Cristo já voltou na pele de mulheres e homens santos que preencheram algumas páginas da história da humanidade com exemplos de fraternidade e amor ao próximo e que, tal como sucedeu ao nazareno, foram vítimas da incompreensão de muitos. Só para citar alguns, relembro São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, a heroína Joana D’arc. E mais recentemente, na vizinha Uberaba, dois abnegados apóstolos, Chico Xavier e Dona Aparecida, a “Vó Cida” do Hospital do Pênfigo. Do primeiro nem é preciso falar, todos conhecem os extraordinários testemunhos de amor a Cristo dados por ele. Um homem que foi fiel aos ensinamentos do Cordeiro de Deus a ponto de abdicar da própria vida para servir de amparo a tantas almas que o procuravam carentes de tudo, material e espiritualmente falando. Quero então dedicar algumas palavras à Vó Cida, mulher de muita fibra e coragem, responsável pelo Hospital do Pênfigo, instituição que abriga portadores de uma doença terrível, o Pênfigo Foliáceo, popularmente conhecida como doença do fogo selvagem. Em 1945 dona Aparecida era enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Uberaba quando os diretores do hospital, por questões políticas, como sempre acontece, decidiram que não mais cuidariam dos pacientes portadores de Fogo Selvagem que se encontravam internados no hospital. Compadecida da situação dos pacientes, que não tinham para onde ir, Vó Cida levou 12 deles para sua pequena casa e logo se viu diante de uma escolha difícil. Um de seus filhos pediu-lhe que tomasse uma decisão: ficar com a família ou com os doentes. Como uma autêntica discípula do Cristo, Vó Cida não pensou duas vezes, ficou com os doentes. "Hoje, fico com os doentes, porque eles só têm Deus e eu por eles, vocês estão crescidos e vão se virar", disse ela ao filho. A partir desse dia Vó Cida, como acontecera ao próprio Cristo, experimentou todo tipo de humilhação e dificuldade. Sozinha, incompreendida pela família, sem apoio das autoridades públicas e rechaçada pelo preconceito da comunidade que acreditava ser o Fogo Selvagem uma espécie de lepra, uma doença contagiosa, Vó Cida foi para São Paulo onde chegou a ser presa por pedir esmolas para sustentar os doentes. Dois vereadores de Uberaba, em visita à capital paulista, tão logo a viram nas ruas esmolando, pediram sua prisão sob a alegação de que com aquele gesto ela estava denegrindo a imagem da sua cidade. Foram 8 dias no xadrez. O calvário de Dona Aparecida só não foi pior porque almas generosas dela se acercaram, entre elas o médium Chico Xavier e o jornalista Saulo Gomes. Com a ajuda dos dois e o apoio sobretudo daqueles que eram admiradores de Chico Xavier, Vó Cida edificou em 1957 a instituição que hoje se chama Lar da Caridade Hospital do Pênfigo, onde por mais de 50 anos essa grande heroína, lutando contra todas as adversidades, dedicou-se inteiramente à prática da caridade, prestando socorro a todos os desamparados que bateram à sua porta. E sempre que a vejo na TV, em um vídeo em que ela é entrevistada pelo jornalista Saulo Gomes, embevecido por sua candura e grandeza de alma, me sinto diante do próprio Cristo porque aquela mulher negra, corajosa e íntegra foi a mais fiel personificação dos ensinamentos do carpinteiro de Nazaré. Salve, salve, Vó Cida, seus exemplos ficarão marcados em nosso coração como rastros indeléveis a serem seguidos!

Depoimentos da Dona Aparecida em entrevista concedida à Folha Espírita de São Paulo, em setembro de 1999:

“Eu trabalhava no hospital havia dois anos e alguns meses. Venceu o mandato daquela diretoria, e entrou outra. A eleição foi dia 4, e dia 6 eles tomaram posse. Os novos diretores parece que tinham alguma rixa com nosso médico, que era irmão do Pedro Aleixo e partidário da UDN. A turma que ganhou era do PTB. Falaram para mim: "Olha, hoje não tem almoço para os doentes, pode mandar todos pra casa". "Como?" , eu disse, "eles não têm dinheiro, estão ruins." "Ordem dada, ordem executada", replicaram. Ou seja, não havia apelação, os doentes estavam na rua."

“Havia muito preconceito para com os doentes. Eu saía para pedir esmolas com três deles. Muita gente nos via e descia da calçada. Se nós entrávamos nos ônibus, o pessoal descia. Fomos pedir em uma casa, e os meninos tocaram no portão. Antes que subíssemos, a dona da casa mandou passar álcool no portão para desinfetar. A doença do pênfigo é triste, é horrorosa, o doente na primeira fase é um pedaço de carne podre. E o povo tinha medo, porque ninguém conhecia, mas nós vencemos. Para fazer esta casa aqui foi uma luta, tantos foram os abaixo-assinados para que não fosse feita.”

“Aqui não tem um grão de areia dado pela Prefeitura, nem pelo Estado ou a União. Foi o povo quem me ajudou. O pessoal espírita daqui fazia a campanha "Auta de Souza" e traziam as coisas para mim. Mas não dava para manter a casa, porque no final de um mês eu tinha trinta e cinco doentes. Fui para São Paulo e ficava no Viaduto do Chá, em frente da Light. Punha um lençol, as meninas segurando, e eu com um sino dizia: "Me dêem uma esmola pelo amor de Deus, para os doentes do Fogo Selvagem de Uberaba". E aí o povo ia jogando níqueis. Na época, foram dois vereadores daqui passear em São Paulo: um advogado e um médico. Achando que eu estava desmoralizando Uberaba, fizeram Ofícios para o Assis Chateaubriand e para a Delegacia. Fiquei oito dias no xadrez, até que uma advogada, Doutora Izolda, me tirou. Quem mandou ela me tirar, não sei até hoje, pois ela já morreu."

Para saber mais sobre a história de Dona Aparecida, consulte o livro "Uma Vida de Amor e Caridade", de Izabel Bueno, Editora Espírita Cristã Fonte Viva, Belo Horizonte-MG.”