sexta-feira, 19 de março de 2010

Brinquedos que matam

Injeção eletrônica, motor flex, travas e vidros elétricos, direção hidráulica, câmbio automático, computador de bordo, piloto automático e muito conforto. Hoje, com toda a parafernália de dispositivos eletrônicos, filhos das chamadas “tecnologias de ponta”, os antigos automóveis viraram verdadeiros “carrões de luxo”, condenando ao sucateamento a geração dos carburados. Com tantos recursos e atrativos, o condutor reage diante dessas máquinas ultramodernas com a mesma euforia com que uma criança reage diante de um brinquedo eletrônico. E por conta desse deslumbramento muita gente deixa de atentar para um detalhe muito importante: a segurança. Está cada vez mais frequente o tal ‘recall’ das grandes montadoras que, espontaneamente ou por imposição de órgãos reguladores, chamam os proprietários de veículos até as concessionárias para reparo do que eles classificam como “defeitos de fabricação que podem colocar em risco a vida do condutor”. Isto é, os brinquedos são bonitos, atiçam a vaidade, mas podem matar, o que não deixa de ser irônico porque com tanta tecnologia envolvida sentir-se seguro dentro de um automóvel deveria ser um requisito básico. Há quem diga que o recall nada mais é que um reflexo da sociedade industrializada, marcada pelo excesso de tecnologia e pelo pouco respeito à vida. Que saudades daquele tempo em que o pior que podia acontecer era o motorista ter que empurrar o carango carburado de vez em quando para dar o famoso “tranco”. O motor engasgava, a partida era difícil, é verdade, mas veículo e condutor chegavam sãos e salvos ao seu destino. O engraçado é que, com tanta montadora fazendo recall, logo veremos motoristas na dúvida se não preferem um Fusca de 4.000 reais que os leve com segurança a um carrão de luxo de 80, 100 mil reais que quebre na estrada pondo em risco a sua vida, numa irônica paródia daquele velho e conhecido ditado que diz: “Prefiro um asno que me leve a um cavalo que me derrube!”.

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