quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Um dia nossos filhos vão nos perguntar: "pai, mãe, o que é infância?"

Só aos 6 anos de idade tive minha primeira experiência em ambiente escolar. Lembro-me bem do velho instituto em minha terra natal, em que tive os primeiros contatos com a sala de aula, a figura da professora e vários coleguinhas que comigo formavam uma turminha do jardim de infância. Era uma espécie de sala de espera para a entrada no 1º ano do curso primário, no qual cheguei aos 7 anos. Ali eu tive o primeiro contato com o que se pode chamar de ambiente coletivo. Hoje, mal sai da barriga da mãe e a criança já passa a frequentar o berçário de uma creche. Mal aprende a segurar-se sobre as pernas e já está na escolinha. Bom ou ruim? Eis a questão que tem me assombrado quando ponho minha cabeça no travesseiro. Com filho de dois anos em casa, muitos argumentam que está na hora de colocá-lo na escolinha para que o pequenino não tenha a sua socialização retardada. Mas será que a escola é de fato um ambiente indispensável para a socialização? E faço essa pergunta quando me lembro de tudo que fiz até o 6º ano de vida, antes de entrar na pré-escola. As aventuras, as diabruras, as peripécias, os brinquedos feitos por minhas próprias mãos, enfim tudo aquilo que fez de mim uma criança feliz, para a qual, até ali, a escola não fizera falta nenhuma. Me preocupa quando me lembro que o ambiente escolar não é o que se pode chamar de saudável. Me preocupa saber que desde os dois anos de idade a criança terá alguém dizendo aos seus ouvidos: faça como o coleguinha, viu como o coleguinha se comporta bem? A criança nem aprendeu a falar direito e já está sofrendo com aquilo que eu chamo de desgraça maior da escola: a de dizer quem vai ser alguém na vida e quem está fadado a ser um “um joão-ninguém”, quem é o todo-certinho-da-turma e quem é o capetinha, o que eu entendo como maniqueísmo neurotizante.  Me preocupa o fato de a criança ter que seguir um modelo coletivo, tido como padrão, desde muito cedo. Até que ponto enfiar a criança numa camisa de força, que é o ambiente escolar, com suas avaliações e cerceamento da liberdade de expressão (o que digo ou faço em casa não é apropriado na escola) pode influenciar no seu desenvolvimento? Não teremos censura demais - os pais em casa e as “tias” na escola dizendo o que é certo e errado - definhando a iniciativa própria, a espontaneidade que é característica da criança? O argumento da socialização por si só não é suficiente pra me convencer de que o ingresso prematuro na vida escolar seja algo realmente benéfico. Como estamos diante de uma situação meio que inevitável, já que pai e mãe precisam trabalhar e são forçados a deixarem seus filhos em creches e escolinhas, a discussão sai do campo da experiência pretérita do adulto e vira uma incógnita: o que será dessa geração que desde muito cedo passa mais tempo com estranhos que com os pais, a família, reclusos entre os muros de uma instituição que até hoje, salvo raras exceções, não aprendeu a lidar com as individualidades? Só o tempo dirá.

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