quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sua bênção, Vó Cida!



É crença entre os seguidores das religiões ditas cristãs que Cristo voltará um dia à Terra, com toda sua glória e força, para o profetizado julgamento final. Mas como reagiriam todos os que acreditam na volta triunfal do Filho de Deus, cheia de alarde e toques de trombetas, se alguém de repente dissesse que ele já voltou não só uma, mas inúmeras vezes, sem que muitos sequer tenham se dado conta disso? No mínimo causaria espanto. Pois ouso afirmar que Cristo já voltou na pele de mulheres e homens santos que preencheram algumas páginas da história da humanidade com exemplos de fraternidade e amor ao próximo e que, tal como sucedeu ao nazareno, foram vítimas da incompreensão de muitos. Só para citar alguns, relembro São Francisco de Assis, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, a heroína Joana D’arc. E mais recentemente, na vizinha Uberaba, dois abnegados apóstolos, Chico Xavier e Dona Aparecida, a “Vó Cida” do Hospital do Pênfigo. Do primeiro nem é preciso falar, todos conhecem os extraordinários testemunhos de amor a Cristo dados por ele. Um homem que foi fiel aos ensinamentos do Cordeiro de Deus a ponto de abdicar da própria vida para servir de amparo a tantas almas que o procuravam carentes de tudo, material e espiritualmente falando. Quero então dedicar algumas palavras à Vó Cida, mulher de muita fibra e coragem, responsável pelo Hospital do Pênfigo, instituição que abriga portadores de uma doença terrível, o Pênfigo Foliáceo, popularmente conhecida como doença do fogo selvagem. Em 1945 dona Aparecida era enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Uberaba quando os diretores do hospital, por questões políticas, como sempre acontece, decidiram que não mais cuidariam dos pacientes portadores de Fogo Selvagem que se encontravam internados no hospital. Compadecida da situação dos pacientes, que não tinham para onde ir, Vó Cida levou 12 deles para sua pequena casa e logo se viu diante de uma escolha difícil. Um de seus filhos pediu-lhe que tomasse uma decisão: ficar com a família ou com os doentes. Como uma autêntica discípula do Cristo, Vó Cida não pensou duas vezes, ficou com os doentes. "Hoje, fico com os doentes, porque eles só têm Deus e eu por eles, vocês estão crescidos e vão se virar", disse ela ao filho. A partir desse dia Vó Cida, como acontecera ao próprio Cristo, experimentou todo tipo de humilhação e dificuldade. Sozinha, incompreendida pela família, sem apoio das autoridades públicas e rechaçada pelo preconceito da comunidade que acreditava ser o Fogo Selvagem uma espécie de lepra, uma doença contagiosa, Vó Cida foi para São Paulo onde chegou a ser presa por pedir esmolas para sustentar os doentes. Dois vereadores de Uberaba, em visita à capital paulista, tão logo a viram nas ruas esmolando, pediram sua prisão sob a alegação de que com aquele gesto ela estava denegrindo a imagem da sua cidade. Foram 8 dias no xadrez. O calvário de Dona Aparecida só não foi pior porque almas generosas dela se acercaram, entre elas o médium Chico Xavier e o jornalista Saulo Gomes. Com a ajuda dos dois e o apoio sobretudo daqueles que eram admiradores de Chico Xavier, Vó Cida edificou em 1957 a instituição que hoje se chama Lar da Caridade Hospital do Pênfigo, onde por mais de 50 anos essa grande heroína, lutando contra todas as adversidades, dedicou-se inteiramente à prática da caridade, prestando socorro a todos os desamparados que bateram à sua porta. E sempre que a vejo na TV, em um vídeo em que ela é entrevistada pelo jornalista Saulo Gomes, embevecido por sua candura e grandeza de alma, me sinto diante do próprio Cristo porque aquela mulher negra, corajosa e íntegra foi a mais fiel personificação dos ensinamentos do carpinteiro de Nazaré. Salve, salve, Vó Cida, seus exemplos ficarão marcados em nosso coração como rastros indeléveis a serem seguidos!

Depoimentos da Dona Aparecida em entrevista concedida à Folha Espírita de São Paulo, em setembro de 1999:

“Eu trabalhava no hospital havia dois anos e alguns meses. Venceu o mandato daquela diretoria, e entrou outra. A eleição foi dia 4, e dia 6 eles tomaram posse. Os novos diretores parece que tinham alguma rixa com nosso médico, que era irmão do Pedro Aleixo e partidário da UDN. A turma que ganhou era do PTB. Falaram para mim: "Olha, hoje não tem almoço para os doentes, pode mandar todos pra casa". "Como?" , eu disse, "eles não têm dinheiro, estão ruins." "Ordem dada, ordem executada", replicaram. Ou seja, não havia apelação, os doentes estavam na rua."

“Havia muito preconceito para com os doentes. Eu saía para pedir esmolas com três deles. Muita gente nos via e descia da calçada. Se nós entrávamos nos ônibus, o pessoal descia. Fomos pedir em uma casa, e os meninos tocaram no portão. Antes que subíssemos, a dona da casa mandou passar álcool no portão para desinfetar. A doença do pênfigo é triste, é horrorosa, o doente na primeira fase é um pedaço de carne podre. E o povo tinha medo, porque ninguém conhecia, mas nós vencemos. Para fazer esta casa aqui foi uma luta, tantos foram os abaixo-assinados para que não fosse feita.”

“Aqui não tem um grão de areia dado pela Prefeitura, nem pelo Estado ou a União. Foi o povo quem me ajudou. O pessoal espírita daqui fazia a campanha "Auta de Souza" e traziam as coisas para mim. Mas não dava para manter a casa, porque no final de um mês eu tinha trinta e cinco doentes. Fui para São Paulo e ficava no Viaduto do Chá, em frente da Light. Punha um lençol, as meninas segurando, e eu com um sino dizia: "Me dêem uma esmola pelo amor de Deus, para os doentes do Fogo Selvagem de Uberaba". E aí o povo ia jogando níqueis. Na época, foram dois vereadores daqui passear em São Paulo: um advogado e um médico. Achando que eu estava desmoralizando Uberaba, fizeram Ofícios para o Assis Chateaubriand e para a Delegacia. Fiquei oito dias no xadrez, até que uma advogada, Doutora Izolda, me tirou. Quem mandou ela me tirar, não sei até hoje, pois ela já morreu."

Para saber mais sobre a história de Dona Aparecida, consulte o livro "Uma Vida de Amor e Caridade", de Izabel Bueno, Editora Espírita Cristã Fonte Viva, Belo Horizonte-MG.”

2 comentários:

  1. É Trivelinha...

    São pessoas como estas escolhidas por Deus aqui entre nós.
    Algumas são escolhidas para prestar assistência aos desvalidos, outros para semear esperança e muitos outros para plantar a semente do conhecimento da doutrina, seja ela qual for, espírita ou cristã.
    O importante é cultivar o amor ao próximo e cumprir bem nossa missão aqui na terra, através do trabalho.

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  2. São seres encarnados como a "Vó Cida" que vivem o Cristo Verdadeiro, presente dentro de nós como Centelha Divina do Pai Celestial, nosso Santo Ser Crístico.
    Agora ela livre do Corpo Físico estará mais leve para avançar na sua "cruzada de amor e caridade" além do Plano Material.

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