domingo, 13 de dezembro de 2009

Dona Selma e a saga dos 'retados'

Fim de tarde domingueira, chuvinha boa de ouvir e de molhar a terra. Coisa que é até rara na terra de Dona Selma, lá nos confins da Paraíba. Dona Selma, que o próprio nome só lê por letra de outro porque ela mesma não sabe escrever (”escrevinhá”, no dizer dela), cruzou o país e veio dar aqui, na terra do uai. Já ia dizer que com a cara e a coragem, mas no caso dela a coragem vem primeiro. Para tocar a vida com dignidade, faz faxina na casa de outras Selmas. Por certo casa própria, coisa que Dona Selma mesmo de certo só terá um dia por força de um milagre: um bilhete de loteria premiado ou herança de algum semelhante que ‘panhe’ simpatia pelo seu jeito de ser e falar. ‘Tirante’ isso, é o mesmo e velho piparote da fé que toda manhã vem bater-lhe no ombro e anunciar que mais um dia de suor começa. Mais um dia de luta em terra de estranhos. Mas se ‘avexe não’ que esmorecer não é coisa de gente ‘retada’ feito Dona Selma. Uma sacudida no esqueleto e no espírito e lá está ela de pé para mais uma jornada que há de ser tocada com garra igual à dos ‘retados’ que botaram Brasília no mundo antes mesmo que o mundo piscasse os “ói”. Duvide não que é igual que nem certa feita disse o “Mestre Lula”, outro cabra ‘retado’: “Paraíba masculina, muié macho sim sinhô”. E Dona Selma é muito macho, mas não macho do sexo masculino, macho de bravura. A mesma bravura que está no sangue de toda essa gente que cruza o país trazendo na mala um ‘cadinho’ de trapo e uma única certeza: coragem não há de ‘fartá’.
Ave, gente de lá, de longe. A gente de cá lhe tem respeito!

3 comentários:

  1. Gostei muito do blog! Continue com o bom trabalho!

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  2. Olá, Vanessa. Que bom saber que você está de olho em meu blog. Soube lendo seu perfil que você é apaixonada pela mente e comportamento humanos, então vou fazer-lhe uma pergunta: você já leu as crônicas de Machado de Assis? Se não, permita-me indicar sua leitura. Nelas você encontrará vasto conteúdo para análise e reflexão. Machado expõe como ninguém a mente humana. Costumo dizer que ele foi muito mais psicólogo que escritor. Não sei se você gosta da obra dele, mas de qualquer forma fica aqui a sugestão. No mais, apareça sempre em meu blog. Você é muito bem-vinda. Ah, antes que esqueça, também estarei de olho em seu blog de hoje em diante. Você permite?

    Márcio Paiva (Trivelinha)

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  3. Ola! Desculpe a demora em responder, mas tivemos uma mega tempestade ontem. Ja li varios textos de Machado de Assis (meu preferido 'e Memorias Postumas...) mas nao tenho certeza se li todas as cronicas. Li algumas. Concordo quando dizes que ele era otimo em analisar o comportamento humano. Tambem observo tal capacidade nas obras de Shakespeare (em Macbeth, Lady Macbeth apresenta um transtorno obsessivo muito bem descrito!).
    Perdoe-me a falta de acentos (teclado em ingles) e vou estar a seguir atentamente seu blog tambem!
    Felicidades

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