quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Uberlândia, cidade de aluguel e sem alma.

Definitivamente Uberlândia tem assumido cada dia mais a condição de cidade de aluguel e sem alma. Aqui tem toda a estrutura necessária para se ter uma cidade referência nos esportes, nas artes e na cultura. E sempre é o mesmo discurso: “o que a Prefeitura tem de fazer é oferecer espaços para que a arte, a cultura e os esportes se manifestem, e isso nós temos feito”. Certo, isso não se pode negar, mas, contudo, todavia, porém, se não houver incentivo a coisa não anda de lado nenhum. E eu não vejo a Prefeitura dando esse incentivo, talvez por entender que o incentivo deva partir da iniciativa privada (das empresas) ou dos agentes culturais, a quem caberia o dever de fazer a roda girar. De fato as empresas deveriam se envolver mais, e vai aí um apelo ao pessoal das agências de publicidade para que criem projetos socioculturais e esportivos e envolvam as empresas que são suas clientes. E o momento é oportuno demais para isso porque não se fala em outra coisa senão na tal da responsabilidade social e ambiental.
No que diz respeito aos agentes culturais, eu acho que eles deveriam estar lá dentro da Prefeitura, mas não estão. Quem está lá ocupando as secretarias de esporte e cultura é gente nomeada, não é gente do povo. E quem faz a roda girar na arte e na cultura, minha gente, é gente do povo. Gente de gabinete só entende de números e estatísticas, não tem sensibilidade social nem coragem para peitar a burocracia.
Certa feita estive em uma reunião sobre um campeonato de futebol que iria acontecer na cidade, promovido pela Futel. No meio da reunião um cara, responsável pela Futel na época, meteu a lenha nas pessoas que até então organizavam os campeonatos na cidade, dizendo que elas faziam isso apenas por dinheiro, numa referência inescrupulosa à taxa de inscrição que era cobrada para que os times participassem dos campeonatos. Aí eu quase voei no pescoço do cara. Cacete, se os caras viviam disso, como é que não cobrariam nada? Os caras não precisam comer, por acaso? E é aí que está a maior sacanagem que é feita contra os agentes culturais. Os caras são deixados à míngua, marginalizados, nunca ocupam o centro da mesa. Se cobram qualquer coisa são chamados de mercenários, aproveitadores, oportunistas. Só são lembrados nos palanques porque são valiosos cabos eleitorais.
Um dos primeiros posts deste blog foi uma homenagem que fiz a um senhor negro e quase analfabeto, por apelido de Mangueira. agente cultural na verdadeira acepção do termo, que foi o responsável pela realização das maiores feiras de artesanato da cidade e região (vinha artista de todo o país para cá). Era lindo de ver. O cara fundou a Associação dos Artesãos de Uberlândia. E sabe por que ele fez tanto? Porque era um artista brigando por sua arte. E aí é como mãe brigando pelos filhos.
Por falar em mãe brigando pelos filhos, todo ano uma mulher de fibra tem feito das tripas coração para levar as crianças ao teatro e ao encontro fascinante com a Literatura. Briga com empresas de ônibus, briga com a Prefeitura, briga com empresários. Mas faz acontecer. Esse é o perfil do agente cultural. Das pessoas que deveriam estar lá na Prefeitura ensinando para o pessoal dos gabinetes que não adianta construir palco se os artistas e o público não têm acesso ao palco. Mas, infelizmente, quem está lá prefere fazer propaganda da estrutura que a cidade tem para oferecer, para alugar, numa atitude de quem só pensa mesmo em fazer de Uberlândia uma cidade de aluguel e sem alma. Sem alma porque uma cidade que não incentiva as manifestações culturais não tem alma.
Sou admirador do atual prefeito de Uberlândia, um homem de coragem, de fibra, decente, mas uma das coisas que mais me entristecem é quando em conversas com amigos um deles me pergunta como vão os esportes e as artes em minha cidade. Aí, com vergonha e de cabeça baixa, eu mudo de assunto. Menos concreto e mais alma. É o que peço para Uberlândia. 

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